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quarta-feira, 4 de junho de 2014

Do Mentor e do Protetor. Quem é quem e qual a função de cada um?

Caso encontre algum termo desconhecido, recomendo a utilização do meu Glossário BDSM, que está dividido em 2 partes (vide links a seguir): Parte 1 e Parte 2.

Recentemente observei alguns posts no Facebook discutindo o papel do Mentor e muitas vezes, isto gerou confusão e discussão e, no fim das contas, ninguém saiu do lugar.
Como sempre, não pretendo ser o dono da verdade, apenas exponho meu ponto de vista baseado em pesquisas no material gringo.

Ambos os papéis podem ser assumidos tanto por Tops, quanto por bottoms e, obviamente, por Switchers. No entanto, o papel de Mentor é, geralmente, de igual para igual – ou seja, de Top pra Top, sub pra sub – e o papel de Protetor é, geralmente, de Top pra sub. Ou seja, a relação de Mentor-mentorado é, geralmente, horizontal, isto é, entre dois iguais; e a relação Protetor-protegido é, geralmente, vertical, ou seja, entre um comandante e um subordinado.

Vou abordar, inicialmente, o Mentor e, em seguida, o Protetor. É uma decisão sem motivo, mas caso alguém deseje um motivo, pode ser por ordem alfabética ou apenas por antiguidade conceitual.

MENTOR:

De acordo com o dicionário Priberam:

men.tor |ô|(latim Mentor, -oris, do grego Méntor, antropônimo)
Substantivo masculino
1. Guia e conselheiro de outrem.
2. Pessoa que inspira outras.

O usuário Morgan utiliza no Dominant Guide (vide páginas recomendadads) a definição do Dicionário Merriam-Webster, a qual trancreverei a parte que convém à equitatividade linguística:

men.tor (substantivo) alguém que ensina ou auxilia e aconselha outro menos experiente e normalmente mais novo.
 1. Capitalizado: um amigo de Odisseu, responsável pela educação do filho de Odisseu, Telêmaco.
2a. Um conselheiro de confiança ou guia; b. tutor, treinador.

Histórico

A mentoria é uma prática cujas origens estão perdidas na antiguidade. A palavra que a define, no entanto, deriva de um personagem da obra de Homero, “A Odisséia”. O personagem em si, é um homem um tanto quanto insignificante, porém, Atena assume sua aparência para guiar e aconselhar o jovem Telêmaco em momentos de dificuldade.
Sistemas de mentoria incluem os gurus-discípulos no budismo e induísmo, anciãos-aprendizes em sistemas religiosos como rabinos e padres no judaísmo e cristianismo, respectivamente.

Quem é e por que eu preciso de um mentor?

Um mentor é necessário para as boas práticas do BDSM? Sinceramente, não. Isto não quer dizer que ter um mentor seja ruim. Ao contrário, ter um mentor é extremamente útil e proveitoso. É bom ter alguém mais experiente que possa direcionar e explicar coisas em geral, como comportamento, ou específicas, como técnicas.
Existem pessoas que nos ajudam no começo, que tem paciência e tempo para explicar o funcionamento desta nova vida, e devemos grudar nestas pessoas e sugar todo o conhecimento que estiverem dispostos a transmitir, seja sobre a comunidade, ética, literatura e práticas.
Na ausência de uma pessoa para nos guiar, o cuidado deve ser ligeiramente maior, assim como o esforço. A busca por material “didático”, comparação de fontes, a lentidão do avanço, a habilidade para vislumbrar oportunidades e para afirmar seu lugar no meio são muito mais complicados.
Um mentor pode ser (e é!) uma grande ideia, seja através de um pedido para ser aprendiz de alguém mais experiente, seja cultivando amizades com pessoas mais experientes. Tais pessoas podem te ajudar a estruturar plays, relacionamentos, bem como evitar algumas armadilhas que surjam no caminho.
A função de um mentor pode ser vista como a de dois iguais, um ajudando o outro, facilitando o desenvolvimento do mesmo. Alguém que decide doar seus conhecimentos para o bem maior, que é a propagação das boas práticas. É lapidar o talento do menos experiente, torná-lo um indivíduo melhor naquilo que pratica.
Kim Debron (ver Páginas Recomendadas) diz que “um bom mentor não dirá “Eu vou lhe ensinar a ser como eu”, mas sim “Eu vou lhe ajudar a ser quem você quer ser”.
O mentor tem a obrigação de acompanhar, dar atenção, sanar as dúvidas, ensinar técnicas e conceitos e, principalmente, assegurar que o mentorado se torne um indivíduo eficiente naquilo que faz e que faça com ética.
Ter um mentor, no entanto, não implica na autorização para irresponsabilidade e falta de atenção. O mentorado tem uma responsabilidade maior que a do auto-didata, hja visto que recebeu conhecimento direto da fonte, e deve assegurar-se de que está fazendo o melhor uso possível dos conhecimentos adquiridos, bem como de observar sua conduta para honrar e enaltecer a figura e o nome de quem lhe despendeu tanto esforço.

Mentor X Professor

Um professor te ensina uma técnica ou te ajuda a desenvolver uma habilidade que será útil para a vida, enquanto um mentor tenderá a te ajudar a determinar sua própria maneira de enxergar o mundo do qual você escolheu faze parte. Um mentor ensina através do exemplo, é uma pessoa que você almeja se tornar parecida, emular.
Um professor não se envolve tanto na sua vida quanto um mentor, pois, geralmente, ensina para uma turma, enquanto um mentor trava uma dinâmica privada, tornando o ensino-aprendizado uma prática muito mais íntima e pessoal.

Mentor X Treinador

O papel de um mentor não deve ser confundido com o papel de treinar um submisso ou se tornar o Dominador de alguém. Se denominar “mentor” não dá a ninguém o direito de tirar vantagem e tomar liberdades com a pessoa mentorada.
O mentor não deve entrar em uma play com a pessoa mentorada, pois isso mudaria o status para treinador, parceiro de play ou potencial dominador.

Da busca por um mentor

Em todas as instancias da vida, se você deseja ter conhecimento sobre um tipo específico de assunto ou se deseja conhecer um perfil específico de pessoa, o melhor a se fazer é entrar no meio, se associar à comunidade.
Com o BDSM não é diferente então, na busca por um mentor, o ideal é estar conectado com a comunidade, seja virtual ou real – apesar de real ser melhor. Afinal, você não fará amigos no BDSM sem estar onde os praticantes de BDSM estão, certo? (Provavelmente tratarei deste assunto em um futuro próximo).
Independente da porta de entrada na comunidade, a busca por um mentor deve ser a busca por uma pessoa que seja um bom professor PARA VOCÊ, ou seja, alguém com quem voe se dê bem, que tenha gostos semelhantes. Nem sempre a pessoa com maior reputação ou maior fama será a ideal (se for, ÓTIMO!).
Legal, Rasputin, mas o que isso quer dizer? Quer dizer que se você for sádico, um sádico é melhor pra você que alguém mais ligado em disciplina e controle emocional (ou psicológico s’il vous plait), se você tiver mais interesse por dominação pura e simples (simples?!) o melhor é buscar alguém que tenha um relação ou que tenha mais conhecimento nesta “modalidade”. Se você é novo e não conhece nada ainda, busque alguém que tenha conceitos éticos semelhantes aos seus, alguém que possa te apontar na direção certa quando tiver um interesse específico.
Resumindo, existem 4 pontos-chave na “avaliação” de um bom mentor para você:
1. Ele tem as mesmas crenças que você?
O seu mentor deve ter as mesmas definições dos termos comuns que você (e.g. Se ele considera submiss# e escrav# a mesma coisa e você não, em algum momento você pode ter problemas de compatibilidade ao levantar             questões neta linha de raciocínio).
2. Ele está aberto e disponível a deixar você falar ou te pressiona com perguntas?
Um bom mentor saberá a hora de fazer perguntas adequadas e aceitará o seu silencio enquanto você estiver organizando seu raciocínio. Em suma, ele te deixará ter o seu tempo, e saberá a melhor hora de cada coisa.
3. Ele é profissional e ainda assim é uma pessoa agradável para estar perto?
O mentor deve ser uma pessoa que te deixe confortável para falar do que vier á sua mente.É trabalho dele deixar o novato confortável com as novas experiências.
4. Ele parece saber do que está falando?
Mentores não saberão tudo de tudo, mas serão bem versados em uma gama de aspectos que novatos tem curiosidades. Se o seu mentor não tem conhecimento sobre muitas das coisas sobre as quais você tem curiosidade, talvez ele não seja o melhor para você.
Um bom mentor estará preparado para responder às suas perguntas, ainda que isto signifique que ele teve que ir pesquisar sobre o assunto para poder te responder. Alguém que não está disposto a trabalhar para você e com você, não está levando seu crescimento tão a sério.

Tudo isso pode parecer muito julgador – e, de fato, é! – mas lembre-se de que isto envolve o SEU desenvolvimento enquanto dominador/submisso.
Nem sempre o cara famoso é necessariamente confiável, honesto ou ético. Provavelmente é, ou não seria famoso, mas às vezes isto não é verdade. Não parece de utilizar seu senso crítico só porque está falando com alguém “famoso”. Se a maneira dele ver ou fazer as coisas – ética ou moralmente – não for aquela que você acha agradável, está na hora de buscar outra pessoa.

Quando eu posso ser o mentor de alguém?

Se você tiver experiência em alguma coisa, você pode ajudar pessoas menos experientes a encontrarem o caminho delas, assim como fizeram com você. Alguém recém chegado pode aprender com você sobre o Fetlife, sobre os grupos do Facebook, localização dos munches e das festas, cursos, e até mesmo quais pessoas pode procurar para um determinado assunto.
Ser um mentor requer conhecimento, não só da prática específica, mas também deve saber se comunicar e saber ensinar. O mentor deve ser um professor e deve ser confiável o suficiente para ser um confidente quando necessário.
Ser um mentor significa disponibilizar tempo.
Se mentorar não é o que te move, você sempre pode ser honesto e dizer “não”. Talvez apontar a pessoa para a direção certa de alguém que possa ser útil e pronto.
O importante é ser honesto com você e com os outros sobre o que você sabe e o que não sabe. Mentorar não é para inflar seu ego, mas para ajudar os outros.
Existem técnicas para mentorar que são utilizadas no mundo dos negócios, mas só vou citar os nomes para evitar que o caos se instale. Rsrsrs
1. Accompanying (Acompanhamento), 2. Sowing (Semeadura), 3. Catalyzing (Catalização), 4. Showing (Demonstração), 5. Harvesting (Colheita).


PROTETOR

Segundo o Dicionário Priberam:

pro.te.tor |ètô|
adjetivo
1. Que protege (ex.: camada protetora de ozônio).
substantivo masculino
2. O que protege.

Segundo o Dicionário Merriam-Webster:

pro.tec.tor (substantivo): uma pessoa ou objeto que protege alguém ou alguma coisa.
 1. a. Aquele que protege: guardião
b. Um dispositivo usado para prevenir injúrias: guarda


O que é um protetor?

Nas palavras do Morgan: “... o mundo está cheio de pessoas, lugares e coisas perigosas – cascas de banana para escorregar e texugos raivosos espreitam a cada esquina. Como pode um adulto proteger outro no mundo crescido, especialmente em um mundo online ou pessoalmente em uma comunidade BDSM?”.
Mistress Savannah diz em seu blog (ver Páginas Relacionadas) que algumas regras básicas devem ser postas na mesa, bem como algumas perguntas devem ser feitas e respondidas.
Protetor não é um termo que se refere a casais ou a pessoas que tem um relacionamento BDSM, mas sim a pessoas cujo relacionamento BDSM é inexistente, pelo menos no momento.
Proteção é um compromisso sério, onde uma pessoa se torna responsável pela segurança da outra em um ambiente BDSM. O protetor deve orientar, esclarecer e auxiliar. Para tal, o protegido deve acatar os conselhos e obedecer à autoridade do protetor sempre que possível.

Por que eu preciso de um protetor e como deve ser o processo?

Antes de mais nada, deve ser verificado o motivo, a necessidade da proteção. A pessoa se sente ameaçada, agredida, está sendo perseguida ou só vai para um evento específico?
O status de proteção pode gerar confiança e assegurar que alguém novo, incerto da capacidade de negociação e/ou de definir limites, seja iludido e que alguém tire vantagem dele/dela, ou ainda para reduzir o medo de ser iludido e de que seja tirada vantagem dele/dela. Se uma pessoa tem medo se sofrer abuso, isto afetará suas interações e isto torna mais provável ainda que ela seja vitimizada, então, um apoio cai bem.
Uma vez estabelecido o motivo, a amplitude da proteção é o próximo passo a ser verificado. Será apenas online ou vai ser expandido para o mundo real também? Sendo real, vai ser apenas em um evento, ou em vários eventos, ou a qualquer momento? Existe um abismo entre enviar um inbox para uma pessoa que esteja importunando o protegido, e estar lá fisicamente para impedir qualquer ação do abusador.
Geralmente, proteção não quer dizer “estar lá fisicamente e proteger de um agressor”, mas pode chegar a ser. O protetor pode avaliar possíveis parceiros de play – um acordo onde o protegido só pode se encontrar com alguém novo após este ter tido contato pelo protetor, por e-mail e/ou telefone, ou ainda antes do protegido ter uma sessão com o desconhecido, este deve se encontrar previamente com o protetor. O protetor pode ser uma simples desculpa para o protegido declinar uma abordagem em um evento, ou ainda pode ser um conselheiro e confidente do protegido.
Uma vez estipulado o limite da proteção, o protetor deve ter em mente que, caso seja apenas online, sua função é desnecessária, posto que não possa ter atitudes em situações onde o abusador não para só porque o protetor mandou; ou começa a abusar e agredir o próprio protetor; ou ainda consiga tomar posse dos dados pessoais do protegido e apareça na porta da casa do mesmo ou em qualquer ambiente físico onde o protegido esteja.
Definidos os problemas acima, o protetor ideal deve morar perto e/ou ter contatos de confiança por perto do protegido, para assegurar que, caso algum problema ocorra, a proteção será mantida.
Parece exagero? Sim, mas não é.
Na pior das hipóteses, quem aborda o protegido saberá que este não está sozinho e tem alguém para apoiá-lo. Não que isto seja uma barreira para quem não agir com ética.
O protegido, no entanto, deve ser responsável e saber acatar as indicações do protetor. Pode sentir-se contrariado ao ter um veto indo contra os interesses próprios, mas o bom senso deve ser utilizado.
É evidente que pretendentes vetados por um protetor também possam se sentir contrariados, mas estes devem estar cientes de que estão pisando no terreno de outro Top.

O que não é um protetor?

Como diz o Senhor Coltrane (Casa Coltrane - ver Páginas Relacionadas), a função do protetor não deve ser a de “Dono Freelance”. O papel de protetor é quase como um tutor à moda antiga (aquele que fica responsável por órfãos na ausência de familiares). Sendo assim, é inadmissível que o protetor tenha qualquer tipo de relação com o protegido, visto que este é mais frágil e se subjugaria á autoridade, fazendo disso uma relação “incestuosa” (Isto não se enquadra, obviamente, no contexto onde o Dom/Dono protege a submissa/escrava, como citado no início desta seção).
Quer seja um anúncio público de proteção, quer seja um acordo privado, a proteção não é um acordo permanente. É de se esperar que seja como ensinar, mentorar, ser pai/mãe e/ou várias outras “profissões” semelhantes, onde, caso o trabalho seja bem feito, o aprendiz/protegido será, eventualmente, capaz de se cuidar sozinho.


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Antes de aceitar ser um mentor ou um protetor, o indivíduo deve ponderar cuidadosamente, deve avaliar o outro e assegurar-se de que é capaz de ensinar, proteger e garantir que o outro siga o caminho indicado, ou o mais próximo disso.
Tanto o mentor quanto o protetor tem o direito de encerrarem sua relação com o aprendiz/protegido a qualquer momento, caso não concordem com as atitudes dos mesmos.
Antes de aceitar ser um mentor, deve se assegurar de que tem capacidade para ensinar e transmitir o conhecimento de forma clara e concisa.
Antes de aceitar ser um protetor, deve se assegurar de que pode, efetivamente, dar apoio e segurança.
Da mesma maneira, antes de requerer um mentor, o indivíduo deve estar confiante na escolha e deve ter na consciência a responsabilidade de manter o bom nome do mestre. Assim como antes de requerer proteção, o indivíduo deve estar ciente de que o mesmo terá atitudes que nem sempre serão de seu agrado, mas serão tomadas visando o benefício maior.

Ambas os papeis têm uma responsabilidade gigantesca, devendo o mentor ou o protetor manter uma conduta exemplar, ética, moral e cordial, além de um bom senso sem tamanho.

Não deve ser esquecido, em nenhum momento, que a responsabilidade final é do protegido/mentorado, podendo acatar, ou não as ordens/conselhos dos referidos mestres, e devendo ter a capacidade de distinção entre uma boa pessoa e uma má pessoa, aproximando-se da primeira e afastando-se da última, caso seja comprovado por falha de caráter no cumprimento do papel.



É isso pessoal. Até a próxima!

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