Caso encontre algum termo desconhecido, recomendo a utilização do meu Glossário BDSM, que está dividido em 2 partes (vide links a seguir): Parte 1 e Parte 2.
Recentemente observei alguns posts no Facebook discutindo o papel do Mentor e muitas vezes, isto gerou confusão e discussão e, no fim das contas, ninguém saiu do lugar.
Recentemente observei alguns posts no Facebook discutindo o papel do Mentor e muitas vezes, isto gerou confusão e discussão e, no fim das contas, ninguém saiu do lugar.
Como sempre, não pretendo ser o dono da verdade,
apenas exponho meu ponto de vista baseado em pesquisas no material gringo.
Ambos os papéis podem ser assumidos tanto por
Tops, quanto por bottoms e, obviamente, por Switchers. No entanto, o papel de
Mentor é, geralmente, de igual para igual – ou seja, de Top pra Top, sub pra
sub – e o papel de Protetor é, geralmente, de Top pra sub. Ou seja, a relação
de Mentor-mentorado é, geralmente, horizontal, isto é, entre dois iguais; e a
relação Protetor-protegido é, geralmente, vertical, ou seja, entre um
comandante e um subordinado.
Vou abordar, inicialmente, o Mentor e, em
seguida, o Protetor. É uma decisão sem motivo, mas caso alguém deseje um
motivo, pode ser por ordem alfabética ou apenas por antiguidade conceitual.
MENTOR:
De acordo com o dicionário Priberam:
men.tor |ô|(latim Mentor,
-oris, do grego Méntor, antropônimo)
Substantivo masculino
1. Guia e conselheiro de outrem.
2. Pessoa que inspira outras.
O usuário Morgan utiliza no Dominant Guide (vide páginas
recomendadads) a definição do Dicionário Merriam-Webster, a qual trancreverei a
parte que convém à equitatividade linguística:
men.tor (substantivo) alguém que ensina ou auxilia e
aconselha outro menos experiente e normalmente mais novo.
2a. Um
conselheiro de confiança ou guia; b.
tutor, treinador.
Histórico
A mentoria é uma prática cujas origens estão
perdidas na antiguidade. A palavra que a define, no entanto, deriva de um
personagem da obra de Homero, “A Odisséia”. O personagem em si, é um homem um
tanto quanto insignificante, porém, Atena assume sua aparência para guiar e
aconselhar o jovem Telêmaco em momentos de dificuldade.
Sistemas de mentoria incluem os
gurus-discípulos no budismo e induísmo, anciãos-aprendizes em sistemas
religiosos como rabinos e padres no judaísmo e cristianismo, respectivamente.
Quem
é e por que eu preciso de um mentor?
Um mentor é necessário para as boas práticas do
BDSM? Sinceramente, não. Isto não quer dizer que ter um mentor seja ruim. Ao
contrário, ter um mentor é extremamente útil e proveitoso. É bom ter alguém mais
experiente que possa direcionar e explicar coisas em geral, como comportamento,
ou específicas, como técnicas.
Existem pessoas que nos ajudam no começo, que
tem paciência e tempo para explicar o funcionamento desta nova vida, e devemos
grudar nestas pessoas e sugar todo o conhecimento que estiverem dispostos a
transmitir, seja sobre a comunidade, ética, literatura e práticas.
Na ausência de uma pessoa para nos guiar, o
cuidado deve ser ligeiramente maior, assim como o esforço. A busca por material
“didático”, comparação de fontes, a lentidão do avanço, a habilidade para
vislumbrar oportunidades e para afirmar seu lugar no meio são muito mais
complicados.
Um mentor pode ser (e é!) uma grande ideia,
seja através de um pedido para ser aprendiz de alguém mais experiente, seja cultivando
amizades com pessoas mais experientes. Tais pessoas podem te ajudar a
estruturar plays, relacionamentos, bem como evitar algumas armadilhas que
surjam no caminho.
A função de um mentor pode ser vista como a de
dois iguais, um ajudando o outro, facilitando o desenvolvimento do mesmo.
Alguém que decide doar seus conhecimentos para o bem maior, que é a propagação
das boas práticas. É lapidar o talento do menos experiente, torná-lo um
indivíduo melhor naquilo que pratica.
Kim Debron (ver Páginas Recomendadas) diz que “um bom mentor não dirá “Eu vou lhe ensinar a ser como eu”, mas sim “Eu vou lhe
ajudar a ser quem você quer ser”.
O mentor tem a obrigação de acompanhar, dar
atenção, sanar as dúvidas, ensinar técnicas e conceitos e, principalmente,
assegurar que o mentorado se torne um indivíduo eficiente naquilo que faz e que
faça com ética.
Ter um mentor, no entanto, não implica na
autorização para irresponsabilidade e falta de atenção. O mentorado tem uma
responsabilidade maior que a do auto-didata, hja visto que recebeu conhecimento
direto da fonte, e deve assegurar-se de que está fazendo o melhor uso possível
dos conhecimentos adquiridos, bem como de observar sua conduta para honrar e
enaltecer a figura e o nome de quem lhe despendeu tanto esforço.
Mentor
X Professor
Um professor te ensina uma técnica ou te ajuda
a desenvolver uma habilidade que será útil para a vida, enquanto um mentor
tenderá a te ajudar a determinar sua própria maneira de enxergar o mundo do
qual você escolheu faze parte. Um mentor ensina através do exemplo, é uma
pessoa que você almeja se tornar parecida, emular.
Um professor não se envolve tanto na sua vida
quanto um mentor, pois, geralmente, ensina para uma turma, enquanto um mentor
trava uma dinâmica privada, tornando o ensino-aprendizado uma prática muito
mais íntima e pessoal.
Mentor
X Treinador
O papel de um mentor não deve ser confundido
com o papel de treinar um submisso ou se tornar o Dominador de alguém. Se
denominar “mentor” não dá a ninguém o direito de tirar vantagem e tomar
liberdades com a pessoa mentorada.
O mentor não deve entrar em uma play com a
pessoa mentorada, pois isso mudaria o status para treinador, parceiro de play
ou potencial dominador.
Da
busca por um mentor
Em todas as instancias da vida, se você deseja
ter conhecimento sobre um tipo específico de assunto ou se deseja conhecer um
perfil específico de pessoa, o melhor a se fazer é entrar no meio, se associar
à comunidade.
Com o BDSM não é diferente então, na busca por
um mentor, o ideal é estar conectado com a comunidade, seja virtual ou real –
apesar de real ser melhor. Afinal, você não fará amigos no BDSM sem estar onde
os praticantes de BDSM estão, certo? (Provavelmente tratarei deste assunto em
um futuro próximo).
Independente da porta de entrada na comunidade,
a busca por um mentor deve ser a busca por uma pessoa que seja um bom professor
PARA VOCÊ, ou seja, alguém com quem voe se dê bem, que tenha gostos
semelhantes. Nem sempre a pessoa com maior reputação ou maior fama será a ideal
(se for, ÓTIMO!).
Legal, Rasputin, mas o que isso quer dizer?
Quer dizer que se você for sádico, um sádico é melhor pra você que alguém mais
ligado em disciplina e controle emocional (ou psicológico s’il vous plait), se você tiver mais interesse por dominação pura e
simples (simples?!) o melhor é buscar alguém que tenha um relação ou que tenha
mais conhecimento nesta “modalidade”. Se você é novo e não conhece nada ainda,
busque alguém que tenha conceitos éticos semelhantes aos seus, alguém que possa
te apontar na direção certa quando tiver um interesse específico.
Resumindo, existem 4 pontos-chave na
“avaliação” de um bom mentor para você:
1. Ele tem as mesmas crenças que você?
O seu mentor deve ter as mesmas
definições dos termos comuns que você (e.g. Se ele considera submiss# e escrav#
a mesma coisa e você não, em algum momento você pode ter problemas de
compatibilidade ao levantar questões
neta linha de raciocínio).
2. Ele está aberto e disponível a deixar você
falar ou te pressiona com perguntas?
Um bom mentor saberá a hora de
fazer perguntas adequadas e aceitará o seu silencio enquanto você estiver
organizando seu raciocínio. Em suma, ele te deixará ter o seu tempo, e saberá a
melhor hora de cada coisa.
3. Ele é profissional e ainda assim é uma pessoa
agradável para estar perto?
O mentor deve ser uma pessoa que
te deixe confortável para falar do que vier á sua mente.É trabalho dele deixar
o novato confortável com as novas experiências.
4. Ele parece saber do que está falando?
Mentores não saberão tudo de
tudo, mas serão bem versados em uma gama de aspectos que novatos tem
curiosidades. Se o seu mentor não tem conhecimento sobre muitas das coisas
sobre as quais você tem curiosidade, talvez ele não seja o melhor para você.
Um bom mentor estará preparado
para responder às suas perguntas, ainda que isto signifique que ele teve que ir
pesquisar sobre o assunto para poder te responder. Alguém que não está disposto
a trabalhar para você e com você, não está levando seu crescimento tão a sério.
Tudo isso pode parecer muito julgador – e, de
fato, é! – mas lembre-se de que isto envolve o SEU desenvolvimento enquanto
dominador/submisso.
Nem sempre o cara famoso é necessariamente
confiável, honesto ou ético. Provavelmente é, ou não seria famoso, mas às vezes
isto não é verdade. Não parece de utilizar seu senso crítico só porque está
falando com alguém “famoso”. Se a maneira dele ver ou fazer as coisas – ética
ou moralmente – não for aquela que você acha agradável, está na hora de buscar
outra pessoa.
Quando
eu posso ser o mentor de alguém?
Se você tiver experiência em alguma coisa, você
pode ajudar pessoas menos experientes a encontrarem o caminho delas, assim como
fizeram com você. Alguém recém chegado pode aprender com você sobre o Fetlife,
sobre os grupos do Facebook, localização dos munches e das festas, cursos, e
até mesmo quais pessoas pode procurar para um determinado assunto.
Ser um mentor requer conhecimento, não só da
prática específica, mas também deve saber se comunicar e saber ensinar. O
mentor deve ser um professor e deve ser confiável o suficiente para ser um
confidente quando necessário.
Ser um mentor significa disponibilizar tempo.
Se mentorar não é o que te move, você sempre
pode ser honesto e dizer “não”. Talvez apontar a pessoa para a direção certa de
alguém que possa ser útil e pronto.
O importante é ser honesto com você e com os
outros sobre o que você sabe e o que não sabe. Mentorar não é para inflar seu
ego, mas para ajudar os outros.
Existem técnicas para mentorar que são
utilizadas no mundo dos negócios, mas só vou citar os nomes para evitar que o
caos se instale. Rsrsrs
1. Accompanying (Acompanhamento), 2. Sowing
(Semeadura), 3. Catalyzing (Catalização), 4. Showing (Demonstração), 5.
Harvesting (Colheita).
PROTETOR
Segundo o Dicionário Priberam:
pro.te.tor |ètô|
adjetivo
1. Que protege (ex.: camada protetora de
ozônio).
substantivo masculino
2. O que protege.
Segundo o Dicionário Merriam-Webster:
pro.tec.tor (substantivo): uma pessoa ou objeto que
protege alguém ou alguma coisa.
b. Um dispositivo usado para prevenir injúrias:
guarda
O que
é um protetor?
Nas palavras do Morgan: “... o mundo está cheio
de pessoas, lugares e coisas perigosas – cascas de banana para escorregar e
texugos raivosos espreitam a cada esquina. Como pode um adulto proteger outro
no mundo crescido, especialmente em um mundo online ou pessoalmente em uma
comunidade BDSM?”.
Mistress Savannah diz em seu blog (ver Páginas
Relacionadas) que algumas regras básicas devem ser postas na mesa, bem como
algumas perguntas devem ser feitas e respondidas.
Protetor não é um termo que se refere a casais
ou a pessoas que tem um relacionamento BDSM, mas sim a pessoas cujo
relacionamento BDSM é inexistente, pelo menos no momento.
Proteção é um compromisso sério, onde uma
pessoa se torna responsável pela segurança da outra em um ambiente BDSM. O
protetor deve orientar, esclarecer e auxiliar. Para tal, o protegido deve
acatar os conselhos e obedecer à autoridade do protetor sempre que possível.
Por
que eu preciso de um protetor e como deve ser o processo?
Antes de mais nada, deve ser verificado o
motivo, a necessidade da proteção. A pessoa se sente ameaçada, agredida, está
sendo perseguida ou só vai para um evento específico?
O status
de proteção pode gerar confiança e assegurar que alguém novo, incerto da
capacidade de negociação e/ou de definir limites, seja iludido e que alguém
tire vantagem dele/dela, ou ainda para reduzir o medo de ser iludido e de que seja
tirada vantagem dele/dela. Se uma pessoa tem medo se sofrer abuso, isto afetará
suas interações e isto torna mais provável ainda que ela seja vitimizada,
então, um apoio cai bem.
Uma vez estabelecido o motivo, a amplitude da
proteção é o próximo passo a ser verificado. Será apenas online ou vai ser
expandido para o mundo real também? Sendo real, vai ser apenas em um evento, ou
em vários eventos, ou a qualquer momento? Existe um abismo entre enviar um
inbox para uma pessoa que esteja importunando o protegido, e estar lá
fisicamente para impedir qualquer ação do abusador.
Geralmente, proteção não quer dizer “estar lá
fisicamente e proteger de um agressor”, mas pode chegar a ser. O protetor pode
avaliar possíveis parceiros de play – um acordo onde o protegido só pode se
encontrar com alguém novo após este ter tido contato pelo protetor, por e-mail
e/ou telefone, ou ainda antes do protegido ter uma sessão com o desconhecido,
este deve se encontrar previamente com o protetor. O protetor pode ser uma
simples desculpa para o protegido declinar uma abordagem em um evento, ou ainda
pode ser um conselheiro e confidente do protegido.
Uma vez estipulado o limite da proteção, o
protetor deve ter em mente que, caso seja apenas online, sua função é
desnecessária, posto que não possa ter atitudes em situações onde o abusador
não para só porque o protetor mandou; ou começa a abusar e agredir o próprio
protetor; ou ainda consiga tomar posse dos dados pessoais do protegido e
apareça na porta da casa do mesmo ou em qualquer ambiente físico onde o
protegido esteja.
Definidos os problemas acima, o protetor ideal
deve morar perto e/ou ter contatos de confiança por perto do protegido, para assegurar
que, caso algum problema ocorra, a proteção será mantida.
Parece exagero? Sim, mas não é.
Na pior das hipóteses, quem aborda o protegido
saberá que este não está sozinho e tem alguém para apoiá-lo. Não que isto seja
uma barreira para quem não agir com ética.
O protegido, no entanto, deve ser responsável e
saber acatar as indicações do protetor. Pode sentir-se contrariado ao ter um
veto indo contra os interesses próprios, mas o bom senso deve ser utilizado.
É evidente que pretendentes vetados por um
protetor também possam se sentir contrariados, mas estes devem estar cientes de
que estão pisando no terreno de outro Top.
O que
não é um protetor?
Como diz o Senhor Coltrane (Casa Coltrane - ver
Páginas Relacionadas), a função do protetor não deve ser a de “Dono Freelance”.
O papel de protetor é quase como um tutor à moda antiga (aquele que fica
responsável por órfãos na ausência de familiares). Sendo assim, é inadmissível
que o protetor tenha qualquer tipo de relação com o protegido, visto que este é
mais frágil e se subjugaria á autoridade, fazendo disso uma relação “incestuosa”
(Isto não se enquadra, obviamente, no contexto onde o Dom/Dono protege a
submissa/escrava, como citado no início desta seção).
Quer seja um anúncio público de proteção, quer
seja um acordo privado, a proteção não é um acordo permanente. É de se esperar
que seja como ensinar, mentorar, ser pai/mãe e/ou várias outras “profissões”
semelhantes, onde, caso o trabalho seja bem feito, o aprendiz/protegido será,
eventualmente, capaz de se cuidar sozinho.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Antes de aceitar ser um mentor ou um protetor,
o indivíduo deve ponderar cuidadosamente, deve avaliar o outro e assegurar-se
de que é capaz de ensinar, proteger e garantir que o outro siga o caminho indicado,
ou o mais próximo disso.
Tanto o mentor quanto o protetor tem o direito
de encerrarem sua relação com o aprendiz/protegido a qualquer momento, caso não
concordem com as atitudes dos mesmos.
Antes de aceitar ser um mentor, deve se
assegurar de que tem capacidade para ensinar e transmitir o conhecimento de
forma clara e concisa.
Antes de aceitar ser um protetor, deve se
assegurar de que pode, efetivamente, dar apoio e segurança.
Da mesma maneira, antes de requerer um mentor,
o indivíduo deve estar confiante na escolha e deve ter na consciência a
responsabilidade de manter o bom nome do mestre. Assim como antes de requerer
proteção, o indivíduo deve estar ciente de que o mesmo terá atitudes que nem
sempre serão de seu agrado, mas serão tomadas visando o benefício maior.
Ambas os papeis têm uma responsabilidade
gigantesca, devendo o mentor ou o protetor manter uma conduta exemplar, ética,
moral e cordial, além de um bom senso sem tamanho.
Não deve ser esquecido, em nenhum momento, que
a responsabilidade final é do protegido/mentorado, podendo acatar, ou não as ordens/conselhos
dos referidos mestres, e devendo ter a capacidade de distinção entre uma boa
pessoa e uma má pessoa, aproximando-se da primeira e afastando-se da última,
caso seja comprovado por falha de caráter no cumprimento do papel.
É isso pessoal. Até a próxima!
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