Páginas

sábado, 21 de fevereiro de 2015

Mas afinal, o que é BDSM?

Caso encontre algum termo desconhecido, recomendo a utilização do meu Glossário BDSM, que está dividido em 2 partes (vide links a seguir): Parte 1 e Parte 2.

Alguns dias atrás, recebi um pedido: escrever um post sobre o que é o BDSM de um jeito que um iniciante pudesse entender do que se trata e ter um caminho por onde começar. Esse texto também foi postado no site do Castelo BDSM.


O QUE É?

BDSM é um termo que se refere, geralmente, a práticas, atividades e/ou relações onde existe um desequilíbrio proposital na distribuição do controle e do poder, onde, na maioria das vezes, um assume o controle e direciona e conduz o outro por práticas intensas tanto física quanto psicologicamente.
Está ligado, como um termo "guarda-chuva" para certos tipos de comportamentos eróticos e/ou sexuais entre adultos e preza sempre pelo consentimento e pela busca do prazer.

Eróticos, sexuais, prazer? Então BDSM tem a ver com sexo?
Não necessariamente. BDSM pode envolver sexo para algumas (muitas) pessoas, mas para muitas outras pode ser apenas uma maneira mais "assanhada" de preliminares ou, pra alguns outros, ainda podem ser motivadas por motivos completamente distintos do sexo.

Bacana, tio, mas o que são essas letras aí?
Essas letras formam uma sigla que une 3 outras siglas menores: BD, DS e SM.


E o que são essas palavras?

- Bondage está explicado aqui

- Disciplina é uma categoria de atividades onde a imposição do controle e a desobediência e os desafios são postos em prática constantemente. O controle e a imposição da disciplina podem se dar de diversas maneiras, sendo a mais comum, a utilização de práticas ligadas à vertente SM, bem como o conceito de castigo e recompensa.

- Dominação e Submissão são uma forma de relação (mesmo que seja apenas durante uma sessão) onde os parceiros assumem postos hierárquicos de níveis desiguais, onde o de posto inferior (submisso) delega alguma forma de poder e autoridade ao "superior" (Dominador), e este comanda e controla as ações que irão ocorrer. 

- Sadismo e Masoquismo são práticas onde um sádico inflige dor, sofrimento e/ou humilhação no masoquista e ambos sentem prazer nisso. A quantidade, intensidade ou o tipo de dor não influenciam na definição de cada um (sádico ou masoquista), desde que o prazer seja efetivo nestas práticas. Algumas praticas podem ser vistas aquiaqui.


ORIGEM

Bandeira do Orgulho Leather
O BDSM teve origem nos grupos da subcultura Leather, um grupo gay que aglutinava militares no pós-guerra da II Guerra Mundial, que se reuniam em motoclubes, bem como os motociclistas e os entusiastas de pessoas que usavam roupas de couro.
Este grupo existia desde o início dos anos 1940, e tomou mais força no início dos anos 50 com a revolta contra o sistema mainstream e se aproveitando do visual revoltado de Marlon Brando em "O Selvagem" com jaqueta de couro e quepe para se desvincularem da ideia de que homossexuais deveriam ser necessariamente efeminados.
Graças à manutenção da cultura elitista e à cultura popular (como o Teatro Musical), os grupos da comunidade Leather emergiram dos clubes de motociclistas, se tornou referencia simbólica e "point" para os praticantes do sexo mais "excêntrico" e do Sadomasoquismo.

A grande quantidade de protocolos e rituais militares variava ao longo do tempo e dos locais onde as pessoas se reuniam, e, com o tempo, a cultura leather foi tomando espaço e se tornando cada vez mais popular. 
Em 1972, Larry Townsend escreve o livro considerado a grande base da história do grupo Leather e, posteriormente, do BDSM: The Leatherman's Handbook.





Em 1978 Rob Halford, vocalista da banda Judas Priest começa a vestir roupas de couro no palco, trazendo a influencia do heavy metal para a comunidade Leather e vice-versa.


No mesmo ano, o grupo Village People estoura seus maiores sucessos "Macho Man" e "Y.M.C.A", tendo como tema principal a comunidade gay, e como representante da comunidade Leather o integrante Glenn M. Hughes, como o motociclista.




No começo dos anos 1980, grupos de lésbicas se juntam à comunidade Leather, até então exclusivamente gay, e então, no fim da década, com o surgimento e o boom da internet, a facilidade de comunicação e de difusão do assunto aumentou exponencialmente.
Sex-shops pegaram carona na ideia e o nicho dos brinquedos "leather" - ou SM, como já eram comumente chamados nesta época - também sofreu uma expansão considerável.

No início dos anos 1990, o BDSM chega ao Brasil, tendo o foco principalmente em São Paulo e Rio de Janeiro como um grupo integrado (SOMOS) que, após divergencias ideológicas e interpessoais, se subdividiu, com participantes indo e voltando diversas vezes de um grupo para o outro, mas sempre mantendo o objetivo de difundir o BDSM no país.
Durante esta década, com o segundo boom digital, o surgimento de filmes mainstream que incluiam cenas ou temáticas fetichistas em seus enredos fez com que o tema fosse cada vez mais se difundindo e deixando de ser um tabu, mantendo-se este avanço durante os anos 2000 e com uma expansão acelerada nos últimos 3 anos.


BASES

Nos anos 80, com o crescimento da internet, nos foruns online, muitas discussões e debates foram acontecendo em busca de um equilíbrio e de definição de "regras" pra prevenir que pessoas sofressem abusos e para "uniformizar" e tornar a comunidade um grupo mais conciso e coeso, teve início a criação da primeira Base do BDSM.

Em 1983, David Stein, um escravo de New Jersey, visando distinguir o tipo de S/M apreciado por ele na época da visão de "comportamento abusivo ou neurótico e autodestrutivo" que era normalmente associada com o termo sadomasoquismo, resolveu se apropriar de um termo bastante comum e muito utilizado em eventos na época, (São e seguro) visando que todos se divertissem de maneira sadia e segura, e adicionou mais uma palavra que se tornou a palavra-chave de todo o BDSM: Consensual.

SSC - Safe, sane, consensual. Seguro, são, consensual.

Seguro: Garantido, prudente, CUIDADOSO. Deve-se tentar identificar e prevenir riscos à saúde.
São: Sadio, saudável, SENSATO. Atividades devem ser feitas em um estado mental sensato e sadio.
Consensual: Autorização, permissão, ACORDO. Todas as atividades devem envolver o consentimento integral de todos os envolvidos. (Isto não isenta ninguém de responder criminalmente por danos causados na Legislação Brasileira)


Ao longo do tempo, o termo "SSC" foi ficando famoso, e o Comitê de Envolvimento Comunitário (braço político do GMSMA), mesmo não considerando que a sigla definisse o que eles praticavam, decidiram, em uma reunião aberta para planejamento de um evento S/M, usar estas palavras na esperança de que fossem tomadas como um ponto de partida no S/M e que fossem úteis na redução da imagem predatória e abusiva que o S/M tinha.

Sendo assim, decidiram usar em março de 1993 como slogan principal de um evento - sendo inclusive carregado em uma faixa de 6 metros de largura em uma passeata pelos direitos  dos gays e lésbicas em Washington. Esse slogan vinha aparecendo em camisas desde o evento em 1987 e sua popularização se espalhou de maneira jamais imaginada pelo comitê ou pelo seu criador, e, com o tempo, isto começou a gerar uma comoção pela confusão gerada com a associação de "seguro" com "livre de riscos", enfraquecendo a mensagem. 

Em 1999, Gary Switch propôs, em um fórum online, um novo termo, visando retratar, de maneira mais precisa, o tipo de "jogo" praticado por muitos. Apontando o fato de que nada é 100% seguro - nem sequer atravessar a rua - Switch comparou o BDSM ao alpinismo. Em ambos o risco é uma parte essencial da diversão, e, em ambos, esse risco é minimizado através do estudo, treino, técnica e prática.

Além disso, Switch critica o fato da subjetividade do que seria são ou insano, assim como da falta de definição sobre o que se trata a segurança, sanidade e consensualidade:

"A parte da 'perversão' entrou no termo para torná-lo um acrônimo mais 'esperto' * e porque SSC não diz sobre o que se trata. É pesca de trutas Segura, sã e consensual?"
*N.T. - Rack é uma gíria para seios, além de ser o nome de algumas peças de mobília utilizadas tanto como estante ou display de material quanto para bondage e apoio para o corpo em cenas de spanking.

O intuito desta nova nomenclatura é a educação e a consciência. Deve-se fazer esfoço para saber o máximo possível do que irá ser/está sendo feito. Esteja atento aos riscos. Você consentiu ou tem o consentimento de alguém, e se está ciente dos riscos e ainda assim consentiu? Avance. Este é o "espírito" do RACK. Não existe "isto é seguro e isto não é", mas sim "isto é menos seguro que aquilo".

RACK - Risk-Aware Consensual Kink. Perversão Consensual Ciente dos Riscos

Risco: PERIGO. 
Ciente: Conhecedor de um fato, cauteloso, ATENTO. 
Ciente dos Riscos: Todos os participantes estão bem informados e conscientes de todos os riscos envolvendo as práticas.
Consensual: Autorização, permissão, ACORDO. Todas as atividades devem envolver o consentimento integral de todos os envolvidos. (Isto não isenta ninguém de responder criminalmente por danos causados na Legislação Brasileira)
Perversão: Depravação, DESVIO DO COMPORTAMENTO CONSIDERADO NORMAL. 


Em 2002, no BDSM Overdrive foi cunhado um novo termo, ainda não tão abraçado pela comunidade BDSM. Este novo termo surgiu como uma brincadeira em uma aula durante o evento, onde Taunting Sarah, a palestrante, estava falando sobre consentimento versus responsabilidade pessoal, graças à uma preocupação com o SSC, posto que a segurança não seria absoluta. O termo levanta a questão de que não basta conhecer os riscos e, ao contrário do que se pensa, AMBOS os participantes devem estar dispostos a assumir a responsabilidade ao fazer a escolha de corrê-los.

Este termo, criado começou como Personal Responsibility in Consensual Kink (Responsabilidade pessoal em perversão consensual) e foi acrescido do "Informed" (Informado) por alguém desconhecido. Começou a alcançar maior popularidade em 2009, e seus críticos sugerem que é um termo excelente na teoria, mas que, além de ser impossível estar realmente - e integralmente - informado sobre novas práticas, as respostas emocionais não podem ser levadas em consideração até o momento em que as práticas realmente ocorram, e isto tornaria inviável a real aceitação da responsabilidade pelos atos praticados.

PRICK - Personal Responsibility, Informed Consensual Kink. Perversão Consensual (de Riscos) Informados (baseados na) Responsabilidade Pessoal

Responsabilidade: Obrigação de responder pelas ações, sejam próprias, de outrem ou pelo que lhe foi confiado por alguém.
Pessoal: Individual, particular, PRÓPRIO.
Informado: CIENTE.
Consensual: Autorização, permissão, ACORDO. Todas as atividades devem envolver o consentimento integral de todos os envolvidos. (Isto não isenta ninguém de responder criminalmente por danos causados na Legislação Brasileira)
Perversão: Depravação, DESVIO DO COMPORTAMENTO CONSIDERADO NORMAL. 


Em resposta ao RACK, Lady Nichola sugeriu, em 2006, uma nova nomenclatura, criticando o fato de que os termos anteriores - RACK e SSC - não ocupavam o mesmo nicho em relação ao BDSM. Um termo descreve o que é praticado e o outro descreve a filosofia sob a qual as práticas ocorrem.
"Sendo assim, eu me envolvo em uma Perversão Consensual Ciente dos Riscos - e tento mantê-la o mais segura, sã e consensual possível."
Em seguida, critica o fato de que RACK não implica uma responsabilidade dos participantes, e que a ciência dos riscos é tão subjetiva quanto a questão da sanidade em SSC, visto que não se pode medir a ciência de cada um sobre os riscos.
Lady Nichola redefine ligeiramente a noção de alguns termos, capta, ao que parece, inadvertidamente  um termo de PRICK, e os une em um novo acrônimo.

RISSCK - Risk Informed, Safe, Sane, Consensual Kink. Perversão Consensual Sã, Segura e de Risco Informado. 

Risco: PERIGO.
Informado: CIENTE.
Risco Informado: Todos os participantes estão bem informados e conscientes de todos os riscos envolvendo as práticas, através de fontes idôneas.
Seguro: Garantido, prudente, CUIDADOSO. As tentativas de identificação e prevenção dos riscos devem ser diretamente proporcionais aos níveis dos riscos. 
São: Sadio, saudável, SENSATO. Atividades devem ser feitos em um estado mental sensato e sadio, onde quem define o que é sadio são os participantes, e focando na garantia de que a segurança do ponto de vista psicológico está envolvida.
Consensual: Autorização, permissão, ACORDO. Todas as atividades devem envolver o consentimento integral de todos os envolvidos. (Isto não isenta ninguém de responder criminalmente por danos causados na Legislação Brasileira)
Perversão: Depravação, DESVIO DO COMPORTAMENTO CONSIDERADO NORMAL. 


Em seu artigo "Safe Sane Consensual: The Making of a Shibboleth", de 2002, David Stein cita ter recebido um e-mail de um Leather Master chamado SARRAS, que informa sobre a existência de uma outra base, em alguns círculos da "velha guarda", mas que ele mesmo (Stein) não tinha conhecimento sobre a veracidade deste fato. No entanto, ainda em 2000, em um artigo "rascunho" do texto de 2002, a explicação acerca deste termo e de sua origem vem um pouco melhor explicada.

Vou transcrever o texto aqui para melhor compreensão.

"Seguro São e Consensual então, é uma tentativa de dar aos pretensos dominantes do mundo um guia do usuário para a gestão da força sexual que estão lidando, e aos pretensos submissos uma estrutura "filosófica" para confiança e as limitações do dano permanente. Por aquilo que é, como um ideal para aqueles que estão realmente utilizando-o, posso dizer por experiência e observação que Seguro são e consensual faz um trabalho razoável como uma crença amplamente difundida. No entanto, para mim, não é um verdadeiro código para a vida, tampouco uma estrutura ou um conjunto de protocolos de sabedoria capazes de efetivamente produzirem os resultados que aqueles que o usam pensam que estão almejando - por exemplo, a criação, através da prática sexual, de um Leatherman praticante de S/M, todo-poderoso e emocionalmente ressonante"
Eu cresci no meio Leather sob o predecessor - os Três C's. Você encontrará várias traduções disso ao redor do mundo, onde quer que encontre remanescentes do pensamento da Velha Guarda Leather S/M (encarnações dos antigos Clubes de Motociclistas Gays - como o Chicago Hellfire, por exemplo), apesar disso ser dito aos sussurros hoje em dia, isso se for dito. De qualquer maneira, o código sob o qual eu nasci no Leather S/M é Committed, Compassionate, Consensual (Comprometido, Compassivo, Consensual) - ou os Três C's. Para compreender este, você quase deve vir do ponto vista oposto ao seguro, são, consensual. Por exemplo, assim como muitos dos meus irmãos "dominantes", eu sei sobre raiva - o deus da guerra em nossas vidas. É uma emoção  e um espírito poderoso e nos faz humanos naturalmente poderosos, embora inicialmente entregue em uma forma grosseira, para o bem e para o mal, e os Três C's funcionam como uma ferramenta de gestão ou uma filosofia de potência sexual para dar forma e usar aquela terrível raiva que vive na maioria dos humanos. É um código para o uso inteligente desta raiva - a modelagem desta em potência sexual."

A origem da sigla é incerta. Muitos dizem ser bastante recente, mas já havia sido citada aproximadamente na mesma época da RACK como sendo "Velha Guarda".
Muitos consideram que seja uma base adequada para relacionamentos 24/7 TPE, por entregar toda a responsabilidade e segurança do bottom aos cuidados e à complacência do Top.

CCC - Committed, Compassionate, Consensual. Comprometido, Compassivo, Consensual.

Comprometido: Ligado a algo ou a alguém, RESPONSÁVEL. Quer dizer que ambos estão comprometidos um com o outro e que o Top é responsável pelo bottom.
Compassivo: Compadecido, PIEDOSO. O Top faz o que bem entender com o bottom, estando este à mercê do bom senso e da piedade do Top.
Consensual: Autorização, permissão, ACORDO. Todas as atividades devem envolver o consentimento integral de todos os envolvidos. (Isto não isenta ninguém de responder criminalmente por danos causados na Legislação Brasileira)


Esta próxima base foi uma crítica à aparente situação de "politicamente correto" prevista pelo criador. Esta base foi criada por Klaus, um Top brasileiro, na época pertencente a um dos primeiros (se não o primeiro) grupos de BDSMers aqui no Brasil, mais precisamente, na região SP-RJ. Não consegui encontrar a época exata da criação desta base, mas o SOMOS existiu de meados dos anos 1990 até meados dos anos 2000, e a única reprodução do texto está no blog do Mestre JB datando de 2008.
Klaus argumenta que "Consensual" estava deturpando a questão da dominação, onde o submisso tinha direito de opinar e estipular as regras do jogo, dizendo o que gostava ou não e o Dominador acatava, ou que o Dominador dizia o que queria e o submisso "autorizava", ou ainda que escravos impediam que seus donos não poderiam empossar-se de outros escravos, pois isto não era consensual e isto equivaleria a transformar o BDSM em casamento. Klaus vislumbrou este ângulo da consensualidade como uma forma de "curvar" o Top aos desejos do bottom.

Traz então a questão do sensual, não no sentido erótico, sexy, mas com a intenção de expressar os sentidos: tato, olfato, paladar, visão, audição. No intuito de expressar a ideia de que BDSM deve ser algo que estimule e aguce os sentidos, tendo origem no que é bom para ambos os parceiros e sendo norteado pelo bom senso e pelo sentido amplo de Sensualidade.

SSS - São, Seguro e Sensual.

São: Sadio, saudável, SENSATO. Atividades devem ser feitas em um estado mental sensato e sadio.
Seguro: Garantido, prudente, CUIDADOSO. Deve-se tentar identificar e prevenir riscos à saúde.
Sensual: Concernente aos SENTIDOS. Toda a situação que envolve os parceiros deve ser sensual, deve ser boa para os parceiros.


PAPÉIS

No BDSM encontramos 3 tipos de papeis "interpretados" pelos participantes: Top, Switcher e bottom.

Não vou me prolongar neste ponto, posto que as definições de Top estão aqui e as definições de bottom estão aqui.

Switchers são pessoas que se encontram nos dois lados do espectro, atuando tanto como Top quanto como bottom.
Isto pode ocorrer com o mesmo parceiro ou com parceiros diferentes, em uma mesma cena/sessão/relação ou em cenas/sessões/relações diferentes.
Um switcher não será, necessariamente Dominador e submisso, ou sádico e masoquista, ou bondagista e bondagette, mas pode ser qualquer combinação imaginável no escopo do BDSM e dos fetiches.




Espero que gostem!


Bandeira do Movimento Direitos BDSM


quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Liturgia - O que é, no que consiste, pra quê?

Caso encontre algum termo desconhecido, recomendo a utilização do meu Glossário BDSM, que está dividido em 2 partes (vide links a seguir): Parte 1 e Parte 2.

O QUE É?


Segundo o Dicionário Priberam:

li.tur.gi.a
(grego leitourgía, -as, serviço público, serviço do culto)
substantivo feminino

Conjunto das cerimônias eclesiásticas. = RITO


Segundo o Dicionário Online de Português:

s.f. 1.A reunião dos elementos ou práticas que, regulamentados por uma igreja ou seita religiosa, fazem parte de um culto religioso. 
2. Conjunto dos modos usados no desenvolvimento dos ofícios e/ou sacramentos; rito ou ritual. 


NO QUE CONSISTE

Antes de definirmos no que consiste a Liturgia no BDSM, precisamos compreender bem de onde vem essa palavra e para quê serve.

É válido informar que o termo "Liturgia" não é utilizado no BDSM lá fora. Pelo menos não de maneira explícita. O que chamamos, aqui no Brasil, de Litugia, lá fora é separado em "Protocolos", "Rituais" e, menos expressivamente, "Estrutura" (Peter Masters engloba os três itens como "Regras de Comportamento, o que seria uma tradução mais solta de Litugia em qualquer âmbito em que o termo seja usado), sendo assim, passarei ao largo pela definição prática do termo e sua origem no mundo baunilha e, então, aprofundarei-me um pouco nestes três termos.



LITURGIA NA IGREJA CATÓLICA

Por quê só na Igreja Católica, tio Ras?
Por 2 motivos, jovem Padawan: (1) Porque a Igreja Católica é a mais expressiva das religiões (populares no Brasil) com relação aos rituais e protocolos. É ÓBVIO que existem ZILHÕES de protocolos, ritos, etc. nas outras grandes religiões abraâmicas, bem como nas de origem africana, mas aí entra o segundo motivo; (2) É a religião que eu mais conheço e, bem ou mal, é a mais difundida do planeta.
Dito isto, vamos ao que interessa:

Liturgia vem do grego e é a junção de 2 palavras: laós (povo), de onde foi retirada a raiz leit- e urgía (trabalho, ofício), ou seja, é o serviço público. Como o trabalho religioso era predominantemente público na Grécia antiga, a palavra acabou tendo seu significado extendido ao serviço religioso.

No âmbito católico, a liturgia é a representação do chamado Sacrifício de Cristo e serve para relembrar e tornar presente a memória, através de ritos e práticas específicas, aos que nisso crêem.

Visando que esses ritos e práticas sejam cumpridos da melhor maneira possível, faz-se uso de diversos artifícios que contém, cada um, um significado próprio, uma simbologia própria.
Tais artifícios podem ser cores, objetos, definições de calendários com comemorações em datas específicas, ritos e até mesmo o uso de uma lingua ou linguajar específico.

Em uma missa, a liturgia consiste na decoração da Igreja com as cores determinadas pelo calendário do Ano Litúrgico, assim como os adereços usados pelos sacerdotes tanto na vestimenta quanto no altar, e ainda a ordem sequencial que o sacerdote utiliza no decorrer do ofício.


LITURGIA NO BDSM

Definida a função da Liturgia no mundo baunilha - em um âmbito até bastante contraditório ao BDSM - podemos traduzir Liturgia como os rituais que ocorrem nas sessões, os atos cerimoniais dos encoleiramentos, as formalidades no relacionamento interpessoal (principalmente naqueles onde a divisão hierárquica está presente).
Da mesma maneira, estão presentes acessórios, objetos, datas específicas, símbolos e cores e detalhes do linguajar e da escrita.

Saber diferenciar Rituais de Protocolos se faz importante para que as intenções do Top - geralmente Dominador - fiquem mais claras e para que o bottom - geralmente submissa - os compreenda mais facilmente.
Me baseei livremente de um texto do site Submissive Guide, que me pareceu um dos melhores sobre isso e acrescentei algumas coisas de outros sites, como o Peter Masters BDSM Wiki (links sempre indicados na lateral direita).


Rituais

Pelo Dicionário Oxford, rituais são a ordem pre-definida de realização de um serviço religioso ou de devoção.
São comandados ou ensinados pelo Top são usados, geralmente, para inspirar um sentimento específico ou um estado mental específico. Podem funcionar como mecanismo para acalmar e focar de maneira mais adequada, ou até mesmo para funcionar como um lembrete do elo que une Top e bottom no dia-a-dia.
São, muitas vezes, mais simbólicos que práticos.

Protocolos

São uma série de regras de comportamento utilizadas entre duas ou mais pessoas, e que serve para indicar posição ou hierarquia. No BDSM, são mais comuns (quase exclusivos, na verdade) como regras para que bottoms se dirijam a outras pessoas, sejam estas seus Tops ou não.
Protocolos geralmente tem níveis (como Casual, Formal ou Alto Protocolo) e seu grau aumenta ou diminui de acordo com situações específicas, que são definidas pelo Top, ou por um "consenso social".
Poder-se-ia traduzir na prática, de maneira grosseira, como Formas de Tratamento.

Estrutura

É um conjunto de regras, ordens fixas e valores que o Top transmite ao bottom, visando estabelecer um contexto de autoridade mesmo quando o Top não está fisicamente presente ou não está efetivamente capaz de prestar atenção ao que o bottom está fazendo.

Vale a pena definir o que cada parte da estrutua significa apenas para facilitar o entendimento:

Regras: Servem para dar direcionamento não explícito em um conjunto de situações. E.g. "Quando for a uma festa, utilize roupas chamativas e que sejam fáceis de despir."
Ordens Fixas: Instruções a serem seguidas em situações ou momentos específicos onde não exista variação. São ordens expressas. E.g."Aos sábados você não irá vestir um sutiã"
Valores: É a parte mais importante, pois funciona nas situações que o Top não conseguiu vislumbrar previamente. Caso o Top tenha sido capaz de transmitir seus valores e formas de pensar e agir ao bottom, este poderá agir de acordo com o que for mais adequado e que melhor refletirá uma possível escolha do Top. E.g. Recusa uma cena em festa ao se recordar que o mesmo não concorda com bottoms encoleirados fazendo cenas em festas sem o Dono por perto.



Vai aí uma tabelinha pra facilitar a diferenciar uma coisa da outra.



Cerimônias Litúrgicas no BDSM

Cerimônia de Encoleiramento - Cerimonia solene onde são ditos votos de servidão da bottom, cuidado e proteção, assim como cumplicidade e união, de ambas as partes. Pode ser pública ou privada.

Cerimônia das Rosas - Cerimonia ainda mais importante, equivalente a um casamento, gerallmente privada, com no máximo um ou dois amigos do casal. Baseada e coberta de simbolismos e objetos que os reforçam, como flores brancas e vermelhas, correntes, fogo e outros elementos.


Objetos e Símbolos Litúrgicos no BDSM

Coleira - Sem dúvida, o objeto de maior importancia litúrgica no BDSM. É o símbolo magno da possessão e do pertencer, do guiar e ser guiado. Bottoms vestem a coleira no pescoço como um lembrete constante e para simbolizar para outros que confia e se entrega para o Top que a pôs lá consensualmente. São vários os tipos e significados e alguns podem ser conferidos neste post.

Guia - Utilizada em conjunto com a Coleira, faz o elo de ligação com o Top a quem o bottom se entregou.

Contrato - De submissão, de Escravidão, de Sessão, etc. É um documento sem força legal, mas com significado altíssimo e de efeito psicológico equivalente a um contrato legal para os contratantes.

Nick (apelido) - A mudança do nickname se dá como a aceitação de uma nova identidade para o bottom, simbolizando que, a partir daquele momento, não é mais apenas um indivíduo, mas uma extensão do Top.

A voz - Tops - Dominadores, principalmente - tendem a desenvolver um tom de voz específico, mais baixo e calmo, quando querem demonstrar sua intenção mais focada na obediencia.


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Depois disso tudo dito, cabe reforçar que os detalhes específicos e suas variações, uma vez baseados no que foi dito acima, podem ser moldados às preferencias de cada indivíduo, exceto nas questões dependentes de senso comum e do que se considera a "Forma Padrão de Comportamento" em momentos e ambientes ditos litúgicos como festas, eventos sociais e reuniões formais.


Espero que tenham gostado.
Até a próxima. o/

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Tipos de Coleiras

Caso encontre algum termo desconhecido, recomendo a utilização do meu Glossário BDSM, que está dividido em 2 partes (vide links a seguir): Parte 1 e Parte 2.

Esta semana tive o prazer de ser convidado por uma amiga (agora MUITO mais que isso :) ) para revisar um pequeno artigo escrito por ela. Já estava com o tema em mente para escrever um texto próprio nas próximas semanas, mas visto que a oposrtunidade surgiu, topei. Tendo pouca coisa para ajustar, meramente por questões de tradução, alguns minutos depois, o texto estava finalizado e foi postado originalmente no Castelo BDSM.
Segue o texto abaixo.



"A coleira não é apenas uma coleira, não é apenas um colar dado a qualquer bottom, ela é um símbolo. É o símbolo do pertencimento, da submissão, da devoção, do carinho, respeito e posse do bottom.

Coleira não é algo que deva ser dado com leviandade, é para ser levada a sério e respeitada por Tops, bottoms e todos os demais.No universo BDSM existem diversos tipos de coleiras e, dependendo do tipo pode ser usada o tempo todo, só sendo retirada ao final da relação, ou pode ser usada apenas em momentos pré-determinados. Vamos falar um pouco delas.Existem, basicamente, duas modalidades de coleiras, as coleiras propriamente ditas, que são usadas em sessões, cenas, festas e eventos BDSM. Podem se assemelhar, no estilo, a coleiras de animais (cachorro, gato, etc.), mas terão a aparência e o modelo que o Top determinar, e são subdivididas em diversas categorias diferentes citadas abaixo. A outra é a coleira social, que tem uma aparência semelhante a uma gargantilha e serve para que o bottom a use a todo instante (trabalho, casa, mercado, praça...) sem que os baunilhas notem se tratar de uma coleira. Na minha humilde opinião é de bom tom que no momento da escolha da coleira social o Top tenha o bottom que a receberá em mente para que a coleira não seja totalmente destoante do estilo da pessoa.

No BDSM existem diversos tipos de coleira tais como:

- Coleira de proteção

A coleira de proteção representa que aquele bottom está sob a proteção de um Top e que os outros não devem se aproximar sem o consentimento do protetor. São mais usualmente usadas em plays e locais fetichistas. Geralmente o protetor é um Top de confiança do bottom e tem o objetivo de dar segurança a este nesses locais.

- Coleira de consideração

É a primeira coleira usada por um submisso a caminho de um relacionamento. Serve para mostrar aos outros Tops que aquele bottom está em negociação com alguém, ou seja, ele está sendo considerado para uma possível relação. Geralmente é usada por um período de tempo definido e, ao final deste prazo, podem ocorrer três situações: (1) O prazo pode ser estendido por decisão de ambos (Top e bottom); (2) Ambos passam para o próximo estágio; (3) A coleira é devolvida e cada um segue seu caminho em busca de outros parceiros com quem se adaptem melhor.
Tradicionalmente a coleira de consideração é feita em couro e tem a cor azul (o tom da cor não influencia ficando assim a critério do Top). É uma coleira simples, sem ornamentos, travas, adornos ou cadeado.

- Coleira de treinamento
A coleira de treinamento, como o nome sugere, indica que o bottom está sendo treinado pelo Top. É a segunda coleira usada pelo bottom durante o estabelecimento de um relacionamento formal. A partir deste ponto, as ações do bottom refletem as ações do Top.
Este tipo de coleira também pode ser usado por um botom que esteja em uma relação com um tipo de Top denominado Treinador, com quem não haverá uma relação formal, mas apenas o aprendizado de técnicas e comportamentos específicos, requisitados pelo próprio bottom ou pelo Top a quem o bottom pertence.
A coleira de treinamento tradicional é feita também em couro podendo esta ser preta ou vermelha.

- Coleira de propriedade
Esta coleira é o potinho de ouro dos bottoms (risos). É a teceira coleira que um bottom pode receber. Significa que este bottom pertence a um Top. É a representação do compromisso e do relacionamento. Existem cerimônias dentro da liturgia que são realizadas na entrega da coleira de propriedade, como por exemplo a Cerimônia de Encoleiramento e Cerimônia das Rosas (Quer saber mais sobre esta última? Domme Morgana explica ela nesse podcast http://migre.me/orCRJ). 
Dentre as coleiras de posse existem as coleiras exclusivas às relações onde o bottom recebe a nomenclatura “escravo” e que não podem ser retiradas. São presas com um cadeado ou tranca e só poderão ser removidas pelo Top. Quando - ou se - ocorrer o término da relação, a coleira será cortada ou quebrada como símbolo da libertação do escravo. 
Tradicionalmente a coleira de propriedade se apresenta em couro preto ou metal com detalhes em bronze, geralmente é usada com uma trava ou cadeado ficando com o TOP o mecanismo para soltá-la.

Coleiras “extras”:

- Coleira de sessão/cena
São coleiras usadas durante uma sessão. Tem o objetivo de representar a todos que a cena teve inicio e que um “modo D/s” está estabelecido naquele momento – mas não quando a coleira está ausente. Geralmente essas coleiras são simples, sendo apenas uma questão ritualística da sessão ou para aumentar o potencial de controle físico do Top sobre o bottom.

- Coleira de identidade
Alguns bottons optam por usar esse tipo de coleira mesmo sem ter um Top, ou seja, quando não estão numa relação (de proteção, treinamento, posse etc.). É usada, geralmente, em festas e eventos e tem como objetivo identificar o bottom como um bottom. Segundo a tradição essas coleiras são de fita preta ou de couro marrom.

- Coleira virtual
A coleira virtual é usada em redes sociais e chats e tem o objetivo de identificar no meio virtual o bottom encoleirado fazendo um paralelo com a coleira de propriedade. Ela é caracterizada pelo nick do bottom colocado entre chaves e as iniciais do Top à frente, por exemplo, a posse do “Senhor Dominador” teria como coleira virtual o nick “ {bottom}_SD ”

Não importa qual o tipo ou modelo de coleira você tem, ou se é uma coleira litúrgica, tradicional ou não. Ela deve ser respeitada e honrada por todos e principalmente pelo bottom e pelo Top. Ela é uma conquista, um símbolo e principalmente um honra.

Beijinhos lettysub"


Espero que tenham gostado e até a próxima!